27 agosto, 2012

Um conto sobre amor



Diferente de quando se conheceram, quando carregavam consigo a jovial beleza dos vinte e poucos, agora ambos estavam encarcerados pelo peso dos muitos anos de luta e conquistas. Os cabelos, nuvens do céu, denunciavam que a velhice batera à porta e instalou-se sem sequer pedir licença. As mãos trêmulas e o olhar distante, perdido no horizonte como se o magnetismo da aurora houvesse hipnotizado estes serenos olhos. As folhas secas brincam de pique no quintal, as crianças cresceram e aparecerão mais tarde para passar a noite em família.
Tudo é diferente agora, as prioridades já não são as mesmas de uma época em que tudo parecia fácil demais, perto demais. Calmos, em silêncio eles se mantém inertes em um sofá confortável apreciando o início de noite, a brisa calma -velha amiga, sempre presente nas suas vidas- e os pássaros que dançam livres no ar.
"você ainda me ama como antigamente? Como quando me olhava nos olhos, afagava meu rosto e dizia que meu sorriso era o mais belo que seus olhos haviam visto? " - indaga ela, buscando a mão daquele homem tão doce que a acompanha há tanto tempo. Ele esbossa um sorriso tímido, fecha os olhos e espera alguns segundos para respondê-la. Não por precisar de tempo para formular a resposta perfeita -ela sempre esteve pronta em seu coração- mas para reconfortar-se com uma breve lembrança dos anos em que dividiu sua vida com aquela que estava alí ao seu lado, numa agradável noite de outono.
"não te amo como antigamente..." - diz ele, calmamente enquanto segura as mãos quentes da sua sempre amada. "amo-te muito mais que antigamente, amanhã te amarei muito além do que julgo te amar hoje e assim será até o fim das nossas vidas." - nessa altura da resposta, seus olhos enchem-se de lágrimas. "você é a mulher que há muito eu me dispus a conhecer, conheci e enfim me apaixonei. Construimos muito ao longo dessa nossa história mas nada, absolutamente nada, pode ter crescido tanto quanto o amor que nos une há tanto tempo."
Ela sorrí o mesmo belo sorriso que o encantou no passado, o fitando nos olhos com a mesma ternura da primeira vez que juraram amor eterno. Ela é a mesma do passado, ele também. Impossível um amor tão belo se esvair e tornar-se pó.
"amor" - com a voz tomada de emoção ela diz "obrigada por ser o meu homem, do jeito que eu sempre quis, do jeito que você sempre foi."
Um carro aproxima-se do portão e pára. São as crianças chegando. Eles se olham e sorriem, felizes por terem apostado um no outro, felizes por Deus ter unido seus caminhos com tamanha bondade e generosidade. Deus foi perfeito ao unir estes passos, eles sabiam disso.
"Amo você." - Duas vozes em uníssono se completam no ar, enquanto as folhas brincam de pique no quintal.

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