16 agosto, 2012

Névoa



Meus olhos entorpecidos fitam a mancha escura que tenta tomar toda dimensão d'água; tal qual névoa noturna esta mancha move-se lentamente, abraçando o espaço, parte de mim se desprendendo para sempre do meu ser. Olho para os lados, estou sozinho. Não há novidades nesta afirmação, estou envolto por um silêncio quase palpável.
A mancha cresce ao passo que meus sonhos se vão, sonhos que jamais poderia realizar. Sinto uma leve dormencia pelos meus braços que evolui para formigamento, parece que cem mil agulhas brincam covardemente de beijar meus membros superiores. Uma lágrima corre pelo meu rosto, denunciando a angústia -e até o medo- da hora de partir mas preciso ser forte, apesar do fato de que ninguém presenciará este momento e portanto não há motivos para conter as emoções.
O vermelho rubro é tão lindo... lembro-me dos lábios daquela que tanto amei, mas que preferiu a aventura e as desventuras de outros braços em detrimento a todo meu amor. Não há explicação para a traição quando se oferece o amor de bandeja, um sentimento tão puro e verdadeiro. A água já não possui suas caracteristicas naturais, possui agora um odor doce que adentra minhas narinas, envolve meus pensamentos, faz com que meus sentidos fiquem estranhamente aguçados.
Uma aura sepulcral paira ao meu redor, sinto uma coceira proximo aos olhos mas já não tenho forças em meus braços sequer para move-los para fora d'água e sua aparência, antes vívida e alva possui a roxidão da vida que se despede de mim, deixando marcas horrendas e tristes. Uma hora dessas o dia está surgindo, colorindo o horizonte em tons azulados e alegres, contrastando com meus ultimos momentos nesta agonizante jornada que todos chamam de vida. Ouço a movimentação dos trabalhadores matinais, agarrando seus destinos na jornada diária de mentir felicidade para alegrar os outros, se vendendo barato todos os dias por poucas migalhas ao fim do mês. Meretrizes escravas da sua propria sorte.
Olho para dentro d'água e não consigo sequer enxergar minhas pernas, meu corpo está envolto completamente pelo escarlate que não me pertence mais. Sinto uma brisa lamber meu rosto, seria a morte afagando meus cabelos, dando boas vindas para uma jornada desconhecida?? Penso ter ouvido passos, talvez seja alucinação... adormeço lentamente, sentindo meu coração machucado bater assincrono cada vez mais rápido enquanto um forte enjôo me toma. Já não percebo mais nada, tudo está terminado.

Um comentário:

  1. Gostei jovem
    senti uma leve pontada de Sylvia Plath... pode ter sido só minha imaginação
    vou dar uma olhada nos posts anteriores
    abraço carinha

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