30 outubro, 2012

De suicidio - Série Cartas


Escrevo estas que serão minhas ultimas palavras em vida, quero que sejam elas as porta-vozes da minha angústia e desespero quando minha boca silenciar. Estas palavras traçadas no papel com tamanho amargor traduzem um pouco do sentimento de solidão que permeia meu coração, sentimento que transformou-se em sombra do meu ser nos ultimos tempos. Por mais que haja um sem fim de pessoas caminhando nas ruas, se tocando em lençois alugados, enclausuradas em congestionamentos intermináveis, apressadas a fitar seus relógios de pulso, estarão todas elas solitárias, escravas do mal do século com seus sorrisos falsos e agradecimentos desnecessarios. Estou cansado de ser mais um nesta lastimável situação.
Não culpo meus pais que sempre fizeram o impossivel e o inimaginável para, senão me dar tudo que queria, todo o necessário para crescer como homem, como ser humano. Poderiam sim ter sido mais carinhosos, meu pai sempre trabalhando e minha mãe fria demais para me dar atenção, mas cada um de nós sabe da cruz que carrega e por isso não os julgarei. Quando criança e inconsequente eu também poderia ter me comportado mais, ser um filho com boas notas na escola, tive minha parcela de culpa em todo desfecho final. Meus pais me colocaram no mundo, as pernas que fazem meu caminho são as minhas.
Minha esposa que se estivesse viva estaria deitada em meus braços neste momento, como eu a amei. Como ainda amo aquela mulher tão doce, de sorriso fácil e um olhar que facilmente defino como 'um elogio à beleza'. Se existe um Deus que tudo faz e para todos olha, Ele deveria estar ocupado demais quando precisava ter olhado por minha pequena; deixou o câncer devorar seu pulmão, deixou o câncer devorar sua vida, levando consigo grande e importante parte da minha. Deus jamais gostou de mim.
Diante de tantas questões por responder, tantos desejos soprados pelo vento, tanta frieza nas brisas matinais, quero abandonar isso tudo. Não vou me despedir das minhas coisas, não vou ligar para meus pais, não vou chorar pela decisão cometida: dizem que um suicida é fraco, mas o gatilho em minhas mãos certamente pesará uma tonelada e não exitarei em puxá-lo.

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