08 outubro, 2011

Da saudade que jamais existiu




A chuva fina cai lá fora e eu, envolto em pensamentos enquanto a xícara de café esquenta minhas mãos, penso em você. Carinhosamente recordo os momentos em que estivemos juntos naquele distante outono, quando caminhávamos de mãos dadas ouvindo apenas o quebrar das folhas secas sob nossos pés enquanto vez ou outra cochichava afetuosidades em seu ouvido, só para ver seu sorriso colorindo tudo ao nosso redor. Como era doce sua voz, como foram felizes os momentos em que tive você em meus braços.
Observo as gotas da chuva riscarem minha janela, crianças correm na rua em uma tentativa frustrada de manterem-se secos, o vento umido acaricia meu rosto de feição triste e pouco depois -assim como você- vai embora acariciar outros rostos na multidão. Busco um cigarro e o acendo, certo de estar cavando minha sepultura embora isso jamais tenha me assustado. Viver é correr riscos, viver é estar disposto a ir do céu ao inferno em questão de segundos se necessario for.
O balé da fumaça começa diante de meus olhos, percebo alguem ao longe caminhando sem se preocupar com a chuva que lava seu corpo; deve estar sentindo alguma insana necessidade de lavar também sua alma, expulsar seus sentimentos ruins, sentir-se leve. Aquela cena mexe comigo e tomado por um subito desejo de me despir dos meus fantasmas repouso minha xicara de café e calço meus chinelos... Poucos segundos depois estou eu no papel principal deste drama perambulando debaixo daquilo que pretendia manter-me limpo dos meus pudores, livre dos meus pensamentos e lembranças do passado. Lembranças que atormentam minha vida, lembranças que chegam de mansinho enchendo meu coração de ternura e acabam sempre por irem embora deixando meus olhos marejados. Não será possivel esquecer você, jamais.

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