02 novembro, 2006

Pilastra de concreto


Todos olham com pavor
quando se tem o mundo nas mãos,
é só puxar o gatilho, querida,
os anos não querem dizer nada.
Os anos nunca querem dizer nada;
os anos nunca disseram nada.
Coma uma banana e fique feliz,
ligue sua TV e assista àquela merda
que te usa, te abusa, fode com sua vida.
(fode com sua vida)
Os anos querem dizer nada não
os anos jamais dirão algo.

Por uma dentadura postiça
sentí o gosto podre da sua hipocrisia.
É sú puxar o gatilho, querida!
(vamos, puxe devagar)
Assista seus filmes baratos na TV alugada
que alguém alugou para você
e para mim
(para mim?)

Às vezes erguer as mãos pro céu não ajuda,
é melhor pô-las pra frente e começar a trabalhar...
Os anos não querem dizer nada
pois a charada é o mel criado pela cobra.
E eu ví no seu olhar
eu ví diante do espelho
eu ví a mim em você
então chorei
porque a velhice está na sua mente.

Escreva em negrito
escreva seus versos no itálico do mundo
o que está escrito não se apaga
o vento não pode confiscar
os anos não podem destruir
pois
os anos não querem dizer nada.


E, no final, todos choramos sobre uma pobre pilastra de concreto.

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