20 novembro, 2006

No beco...





Sentado no beco ele olha assustado.
Ternos chiques passam por alí como se o mundo fosse acabar em poucos minutos (quem sabe?), e a brisa da manhã envolve aqueles corpos sarneados entre os jornais antigos (os jornais que dizem: o mundo vai melhorar!!). Com fome, sim, mas já não faz diferença pois, daqui a pouco, os moradores tirarão o lixo para fora. O lixo se junta ao lixo.
(essas pessoas jogam tanta coisa que poderia ser aproveitável...)
Não há tempo para pensar, é preciso vencer, na pressa, as baratas e ratos que irão dividir o banquete.

Sentado no beco ele olha assustado.
Com movimentos rápidos e profissionais ele amassa, destroi, 'dexava' a liberdade em suas mãos.
Estas meio trêmulas procuram desordenadamente um pedaço de papel -carinhosamente chamado de 'leda'- para o sossêgo. É preciso precisão cirúrgica para deixar bem apertado, não perder a magia, a mágica, a confusão e a liberdade que não se consegue nos dias de hoje por meios "lícitos".
Pronto, apertado!
O fogo que queimou bruxas no passado, serviu de arma por católicos filhos da puta fanáticos por poder; o mesmo fogo que foi usado por tantos SS em campos de concentração para dizimar os corpos inertes de judeus inocentes agora, alí, servia para dar sossego a uma alma que não tem horizontes belos, que não possui um lar que não a rua, que não possui carinho senão o dos cachorros que lhe lambem os pés. Este mesmo fogo que devora o ar para manter-se vivo também auxiliava o garoto nas suas viagens, nos seus poucos momentos de prazer no beco.
A fumaça sobe lentamente daquele que se batiza na boca de quem o usa, na boca daqueles que o usam como escape para seus inúmeros problemas. A maresia é inevitável mas o garoto não está preocupado com isso, não há com o que se preocupar.

Sentado no beco ele já não olha mais assustado. Não há o que temer, não agora.

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