Eu adoraria dizer que não há nada de errado acontecendo.
Eu gostaria de ignorar algumas coisas, esquecer o tanto que se passou e erguer a cabeça sem me sentir culpado, envergonhado, com medo. Medo inclusive de mim mesmo, deste meu olhar.
O espelho me mostra uma figura estranha, alguém que não sou eu tentando matar o que há da minha essência verdadeira, tentando matar meus sonhos, destruir meus amores, meus desejos, minha vida. Este eu que deseja desistir de tudo, largar construções prontas, outras sendo construídas, algumas por construir. Este eu que não se contenta com nada, que jamais está satisfeito com as coisas que consegue, que jamais está satisfeito com o mundo -porque jamais está satisfeito consigo mesmo.
Eu adoraria ser daqueles que finge estar tudo tranqüilo, que sorri para estranhos enquanto por dentro há um monstro devorando tudo, promovendo o caos. Eu adoraria não ter esta expressão desagradável, antipática, mesquinha; este olhar vago, condenador, que não é capaz de enxergar o longe de onde já ousei chegar. Eu não consigo, eu não sou ator.
Eu tenho raiva disto que me tornei durante todos estes anos. Tenho raiva de ser esta pessoa desanimada, quieta, passiva, que nunca está contente com nada e que, por tal descontentamento, criou um mundinho minúsculo onde cabe apenas um -também minúsculo- seleto grupo de pessoas escolhidas por afinidade e, muitas vezes, pelo destino. Tenho raiva dos meus pensamentos, dos meus têxtos, dos meus desenhos, de tudo o que eu faço: jamais estou contente com uma cria minha, mesmo que multidões me aplaudam de pé. Eu não sei gostar do que é meu, não aprendí a gostar de mim mesmo. Eu sou um grande monte de merda, um grande monte de inseguranças, um grande monte de medos e frustrações, um grande monte de preconceitos e manias, eu sou um grande monte de desejos e sonhos não realizados.
Machuquei tantas pessoas, falei tanto o que não devia, fiz brotar nos olhos de uma pessoa tão querida as mais salgadas lágrimas: fiz parte dos agravos que a levaram para sua morte triste e sofrida. Não pude pedir perdão, não pude reparar meus erros.
Me perdoe...
Eu não queria falar coisas tristes, não queria sempre ver as coisas pelo prisma errado, não queria ser este poço de inutilidades. Não queria estar passando por isto novamente e, apesar de eu estar mais velho que outrora, não sei como serão as coisas daqui pra frente.
Queria poder fingir que está tudo bem, chutar as coisas ruins pro alto e caminhar alegre, ou ao menos fingindo estar alegre.
Eu não sou ator. Eu não estou nada bem.
Não sei se continuo.
Eu sou tão idiota!
30 dezembro, 2006
Arschloch
sábado, dezembro 30, 2006
4 comments
heheh pra quem se diz um blogueiro fracassado você escreve muito bem!;)
ResponderExcluirboa sorte em 2007!
porra,n sei se vc se liga nessas coisas,
ResponderExcluirmas depois de ler seu texto,tive certeza
de q era canceriano.
Depressão é bom... nem sempre,
mas eu n troco a minha tristeza profunda pela alegria debil de muita gente. Desejo a vc 365 dias alegres, profundos e emocionantes, sobre o rotulo de "2007".
bjos.
Agradeço o carinho, Sâmela.
ResponderExcluirbjos pra vc tbm.
Acredite, se eu pudesse escolher certamente não seria esta pessoa amarga e idiota que sou.
Um filho da puta que ama com tanta intensidade tudo e todos e, quando houve seguidos 'nãos' não consegue esquecer o olhar, o docee belo sorriso.
Eu ainda amarei ela. Não queria, mas ainda amarei. Não cabe a mim esta escolha, fazer oque.
Enquanto isso, fico pensando nela a cada copo de café, a cada instante que vejo alguém fumando e lembro que larguei o vício por ela. A cada palavra que sai confusa no papel devido às lembranças dela.
Éh, não é fácil ser canceriano.
Eu sou um tremendo cuzão.
Que merda!!
hehehehe menino... estou eu procurando o meu antigo blog na net e eis que acho esse comentario de mil anos atras... nooooooossa, eu ja existia mesmo em 2006... hehehe
ResponderExcluirnem adianta essas provas escritas, pq amanhã eu vou continuar me perguntando se eu existo mesmo... :p
não tinha visto que vc tinha respondido... canceriano cuzão nada. Isso não combina, não ofenda a (nossa) raça! Só é realmente complicado aprender a lidar com o *sentimento fundo de água* e ai, vc ja aprendeu?
vou dá uma olhada nas coisas mais recentes desse blog...
bjoooooooooooooooo