Cansado da mesma programação 'excelente' da TV brasileira, alcancei meus cigarros, um casaco e saí. Era por volta das 22 horas e tudo o que eu queria era caminhar, pensar sobre alguns rumos a tomar na vida, sobre os rumos já tomados, o namoro que evolui -depois de um período turbulento- carinhosamente. Chamei o elevador, aguardei um pouco, desci. Saudações ao porteiro do prédio, estou na rua! Para onde ir? Não sei, caminharei sem rumo.
Esta pergunta e resposta já me são velhas conhecidas.
Como nem tudo são flores na vida de um fumante, e já dizia a lenda que 'por mais calmo que esteja o tempo, ao colocar um cigarro em sua boca e riscar o palito de fósforo, chegará a ventania!', desta vez não foi exceção... Depois de uma batalha desleal do homem contra a natureza e sua ação devastadora dos ventos, acendi meu cigarro e comecei a caminhar. Percebi que tudo estava vazio, não haviam carros nas ruas, sequer estacionados. 'Estou numa cidade fantasma?' pensei, e continuei caminhando em direção a uma rua escura, ao lado do prédio onde resido. Havia um silêncio quase sagrado na rua, quebrado apenas pela sinfonia do vento que, agora, soprava um pouco mais forte. Lembrei que, em uma cidade em que todos dormem cedo, havia um mercado aberto 24 horas para tomar uma água, quem sabe beliscar alguma coisinha; retirei a carteira do bolso e, à medida que a escuridão cobria-me como um véu negro, contabilizei umas moedas ralas, mas suficientes para aquele momento. Se estivesse com um tênis apropriado, iria até a casa de Sheila, a mulher que faz tudo parecer um dia de primavera, para dar-lhe um beijo adocicado, dizer-lhe o quanto é importante para mim. Mas não estava, e tive que contentar-me apenas com sua lembrança viva na memória. Até meu celular falhou no momento em que eu precisava dele; estava sem carga, era peso desnecessário para a caminhada.
Chegando à avenida principal da cidade avistei carros, mas não muitos, nem poucos; o que eu não avistava eram pessoas que, assim como eu, caminhavam na noite apenas por andar. Continuei a caminhar quando, de repente, um carro preto estaciona metros adiante de mim, voltando em seguida ao meu encontro. Imaginei ser alguém perdido nesta cidade deserta precisando de informações; apaguei meu cigarro e fui de encontro com o carro preto.
Os vidros escuros não mostravam quem estava na direção, sequer um centímetro do interior do veículo. A janela do passageiro desceu e notei um homem grisalho com óculos pendurado na cabeça; ele olhou para meus olhos, disse que estava à procura de diversão: parecia estar bêbado, pela entonação de suas palavras. Extremamente bravo com o que havia escutado, virei-me para continuar andando quando, numa fração de segundo, um estouro fino e ensurdecedor ecoou no ar enquanto um pequeno projétil lançava-se no espaço, ao encontro das minhas costas. Encontrou meu braço direito antes da minha boca soltar um urro de dor, medo, desentendimento diante dos fatos. E assim se seguiram os outros 3 tiros disparados por aquele homem grisalho do carro preto, só que agora eu estava caído e o carro, arrancando, indo embora tendo uma trágica participação em minha vida. Ninguém poderia conceber um momento desses.
Com o susto, acordei ensopado de suor, tomado por uma agonia sem explicação. Ao meu lado, não um carro preto nem tampouco uma rua escura onde o único barulho que se ouvia era o do vento, mas uma mulher, envolta por uma fina coberta e parcialmente iluminada pela claridade que passava pelas cortinas. Aproximei-me dela e afaguei seus cabelos.
26 março, 2007
Perseguição
segunda-feira, março 26, 2007
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