22 outubro, 2012

De despedida a um amigo que esta morrendo - Série Cartas


Lembro quando eramos crianças, jogávamos bola e depois, exaustos, subíamos no pé de jabuticaba para ver o dia se despedir de nós, dando lugar a noite estrelada, enquanto fazíamos planos de papel. Nossas mães preocupadas nos enchiam de sermões quando voltávamos para casa com as roupas imundas, que denunciavam a alegria infantil de mais um dia em vida. Tempo bom quando nossa única preocupação era com a marcação equivocada do gol que não existira, quando nossas notas eram baixas e o medo iminente da surra dos nossos pais... como sinto saudades dessa época. Aprontávamos muito, como se não houvesse o amanhã.
Crescemos, você sempre foi o mais bonito e conversador de nós dois. Como as meninas queriam estar com você e os meninos, queriam ser você. Eu também, mas não o invejava no sentido ruim deste sentimento: o invejava com orgulho, pois a admiração por um amigo de verdade sempre permeou nossa relação. Lembra da Joana, que era louca por você?? Quando vocês namoraram eu fiquei tão feliz que poderia organizar o casamento, a lua-de-mel e tudo mais sozinho só para vê-los bem. Infelizmente ela não soube dar valor ao fantástico rapaz que você era (e sempre foi!) e desistiu de um romance que certamente daria muito certo, vocês teriam filhos lindos... Mas a vida tem dessas coisas, gosta de pregar peças na gente, não é mesmo?
Quando você foi à Europa passar alguns meses estudando percebi ainda mais o valor de uma amizade verdadeira. As cartas que trocávamos, quando o carteiro passava anunciando as correspondências eu logo corria para o portão para ver se havia alguma resposta aos meus escritos; sempre havia!! E eu ficava em êxtase ao lê-las e responder uma a uma, ansioso pelo dia que tomaríamos café novamente fumando daqueles charutos que adorávamos apreciar...


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