27 dezembro, 2012

Lençóis de metal - A poesia por trás da história de Evelyn McHale

"My fiance asked me to marry him in June, but I don't think I would make a good wife for anyone. He is much better off without me."

 Evelyn McHale



Assim sentenciou Evelyn. A doce moça de 23 anos, envolta pela magia da juventude que trás consigo um sem-fim de possibilidades e caminhos prostrou-se no para-peito do observatório do Empire States Building -neste momento o maior edificio do mundo- para observar seu lenço branco dançar pelo céu uma última canção: a canção do adeus. Do alto de 86 andares Evelyn estava mais próxima de Deus, mas isso curiosamente não lhe trazia amparo algum para a alma. Observava tudo lá embaixo quase do tamanho de um grão de areia ao passo que respirava fundo antes de lançar seu adorno ao vento, que também bagunçava seus cabelos como se a quisesse resgatar deste pesadelo, impedi-la naquele momento de colocar em prática aquilo que seu coração desejava.
Era manhã do dia 01 de maio de 1947, muitas pessoas se amontoavam nas calçadas que perfilam o colossal edificio, nenhuma delas poderia prever o que ocorreria nos proximos segundos. A vida é imprevisível e as pessoas muitas vezes agem sem pensar; aquele lenço cortando o ar tal qual uma pluma chegou ao solo e foi notado por John Morrissey, um patrulheiro local que observou o fato e sorriu pela beleza do tecido. A multidão se aglomerava e o barulho de toda conversa dos populares fez o policial não prestar atenção ao fato e prosseguir seu caminho. Entre os populares estava Robert Wiles, prestes a entrar para a história mas, como a vida é um jogo imprevisível, ele também não podia prever este fato.
Alheia a tudo, Evelyn fechava seus olhos sentindo-se grata pela breve vida que teve até então. Sentiu o vento abraçar-lhe e prostrou-se em direção ao vazio com convicção, enquanto seus cabelos se desarrumavam magnificamente belos. Seu corpo estava leve, quase não sentia seus braços e pernas; fora acometida por um relaxamento extremo como se a alma se desprendesse do corpo e o corpo não fizesse força alguma para rejeitar o fato. Ao contrario do que imaginou momentos antes seu coração não estava acelerado e não havia medo, apenas uma sensação de paz profunda e irremediavel que nunca havia sentido antes. Se este caminho tivesse volta, se fosse possível percorrê-lo mais de uma vez seria magnífico provar desta sensação novamente. Após alguns segundos do barulho ensurdecedor do vento em seus ouvidos houve apenas silêncio e uma escuridão tão grande e densa e forte que quase se podia tocar nela. O absoluto silêncio quase sagrado encerrava de vez a jornada de Evelyn McHale assim como ela mesma desejara.
Do outro lado da tênue linha as pessoas apavoradas se entreolhavam, buscavam entender o fato, as motivações para aquele episódio dramático com um desfecho tão inusitado. As lentes de Robert Wiles registraram na memória da humanidade a paz celestial daquela bela e jovem moça repousando sobre o metal retorcido de uma limousine da ONU numa fria manhã de maio.

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