15 fevereiro, 2007

Quem me dera ao menos uma vez...



A vista embassada, a morte dançando em frente aos meus olhos, livre pelo ar, desaparecendo. A dor formigante que se apossa do corpo inerte sobre o sofá da sala já quase não se sente mais, pela dormência adquirida. Há gritos lancinantes de crianças ao longe chegando aos ouvidos, ondas difusas, disconexas, disleais, desnecessárias para o momento.

"Estou triste, nem sei o motivo. Talvez devesse colocar um pornô na TV e me masturbar, assistir a desenhos animados antigos. Talvez eu devesse ler algo de útil, preparar algo saudável para alimentar minha fome -e matar minha preguiça- ou, quem sabe, deveria fechar meus olhos e pensar em coisas boas."

Quem me dera, ao menos uma vez,
Ter de volta todo o ouro que entreguei a quem
conseguiu me convencer
Que era prova de amizade
Se alguém levasse embora até o que eu não tinha.

Quem me dera, ao menos uma vez,
Esquecer que acreditei que era por brincadeira
Que se cortava sempre um pano-de-chão
De linho nobre e pura seda.

Quem me dera, ao menos uma vez,
Explicar o que ninguém consegue entender:
Que o que aconteceu ainda está por vir
E o futuro não é mais como era antigamente.

Quem me dera, ao menos uma vez,
Provar que quem tem mais do que precisa ter
Quase sempre se convence que não tem o bastante
E fala demais por não ter nada a dizer

Quem me dera, ao menos uma vez,
Que o mais simples fosse visto como o mais importante
Mas nos deram espelhos
E vimos um mundo doente.

Quem me dera, ao menos uma vez,
Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três
E esse mesmo Deus foi morto por vocês -
É só maldade então, deixar um Deus tão triste.

Eu quis o perigo e até sangrei sozinho.
Entenda - assim pude trazer você de volta prá mim,
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do início ao fim
E é só você que tem a cura para o meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.

Quem me dera, ao menos uma vez,
Acreditar por um instante em tudo que existe
E acreditar que o mundo é perfeito
E que todas as pessoas são felizes.

Quem me dera, ao menos uma vez,
Fazer com que o mundo saiba que seu nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz ao menos obrigado.

Quem me dera, ao menos uma vez,
Como a mais bela tribo, dos mais belos índios,
Não ser atacado por ser inocente.

Eu quis o perigo e até sangrei sozinho.
Entenda - assim pude trazer você de volta prá mim,
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do início ao fim
E é só você que tem a cura para o meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.

Nos deram espelhos e vimos um mundo doente
Tentei chorar e não consegui.

2 comentários:

  1. Sinceramente, não é nem um tanto fácil passar pelo que estou também passando, realmente esta canção caiu como uma luva, realmente vivemos um mundo doente e infeliz mas se nos rendermos vamos acabar fenecendo como este texto lido por Ana Carolina:
    http://www.youtube.com/watch?v=ghwsFijmYQM
    Abraço de um Harpas que não toca, porém sente e compreende entre palavras os sentimentos inteiramente inevitáveis.
    Meu blog é www.harpas.zip.net e o mais recente é:
    www.harpas.wordpress.com

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