26 janeiro, 2007

Solidão


Solidão é olhar pela janela e perceber que vizinhos se cruzam sem sequer olhar nos olhos, sem sequer sussurrar um cumprimento.
Solidão é ver o céu de beleza esplendorosa em tons avermelhados, olhar ao redor e não encontrar -senão dentro do coração- a pessoa que se gosta.
Solidão é ver as pessoas que amamos partirem, ver cada uma delas dizer adeus.
Solidão é passar noites em claro pensando em fugir de tudo, de todos, e adormecer enquanto o mundo prepara-se para acordar.
Solidão é o papel em branco, as canções alegres que não divertem, as horas que se recusam a passar.
Solidão é a palavra que não vale um centavo sendo gritada às multidões, todos fiéis, aguardando a melhor forma de matar o próximo.
Solidão é a muralha que nos separa dos nossos sonhos, que nos distancia de toda a beleza que quase já não existe mais.
Solidão é a falta de diálogo, excesso de sangue pelo chão.
Solidão é sentir falta da pessoa que um dia já fomos, dos momentos alegres que imaginamos serem eternos.
Solidão é estar cercado de blocos mudos de concreto sentindo-se feliz sem ao menos conseguir olhar para o horizonte.
Solidão é deixar de comer, deixar de brincar, sorrir, chorar, amar, viver.
Solidão é ver a fumaça subir, levando consigo nossa juventude.
Solidão é morrer queimado em um ônibus, em um ponto de ônibus, sem saber o motivo, sem ter motivo.
Solidão é ser recebido com pedras quando, na verdade, a tentativa era plantar uma flor.
Solidão é acender as luzes e permanecer na escuridão.
Solidão é não ter com quem conversar, não ter em quem confiar, não ver no espelho alguém para amar.

Solidão é a manhã que não se faz dia dentro de nós.

0 pensamentos.:

Postar um comentário