31 agosto, 2012

Chopin Sonata nº 2 - Horowitz


30 agosto, 2012

Garatéia (parte II)


Tem dias que um abraço carinhoso pode salvar sua vida, espantar de vez os fantasmas que assombram seu caminho. Um olhar terno, o simples fato de estar e mostrar-se importado é o bastante, mas palavras aquecem corações feridos. Demonstrar afeto, demonstrar necessidade de vê-lo diferente, como outrora. Alguns dias carregam consigo um misto de incertezas, dúvidas, medos de tempestades passadas voltarem para destruir plantações inteiras. O vento parece soprar forte uma vez mais e as núvens se mostram nebulosas no céu de brigadeiro.
Não é a tristeza pelo simples fato de sê-la, mas uma rajada de dúvidas, questionamentos, solidão eloquente que castiga a alma. É o vapor da chaleira, a brisa do mar que congela à beira da praia. Não se sabe dos caminhos, não se sabe das intenções, não se sabe das verdades ou dos motivos de fugir tanto assim, não se sabe das formigas que carregam seu enorme alimento para não conseguir guardá-lo em sua toca.
A água caminha por sobre as pedras, traça seu destino vigorosamente sem se importar com adversidades no seu trajeto. Simplesmente vai, pois sabe que chegará em algum lugar, chegará em seu destino. O vento transborda força e percorre pirâmides, molda aquilo que se opõem ao seu caminho. E vai, simplesmente vai.

28 agosto, 2012

Ave Maria da rua

No lixo dos quintais
Na mesa do café
No amor dos carnavais
Na mão, no pé, oh
Tu estás, tu estás
No tapa e no perdão
No ódio e na oração.

Teu nome é Yemanjah (Yemanjah)
E é Virgem Maria
É Glória e é Cecília
Na noite fria
Oh, minha mãe
Minha filha tu és qualquer mulher
Mulher em qualquer dia
Bastou o teu olhar
Pra me calar a voz
De onde está você
Rogai por nós

Minha mãe, minha mãe
Me ensina a segurar
A barra de te amar
Não estou cantando só
Cantamos todos nós
Mas cada um nasceu
Com a sua voz,
Ooooh, Ooooh!
Pra dizer, pra falar
De forma diferente
O que todo mundo sente
Segure a minha mão
Quando ela fraquejar
E não deixe a solidão
Me assustar

Gospel

Por que que o sol nasceu de novo e não amanheceu?
Por que que tanta honestidade no espaço se perdeu?
Por que que Cristo não desceu lá do céu e o veneno só tem gosto de mel?
Por que que a água não matou a sede de quem bebeu?
Por que que eu passo a vida inteira com medo de morrer?
Por que que os sonhos foram feitos pra gente não viver?
Por que que a sala fica sempre arrumada se ela passa o dia inteiro fechada?
Por que que eu tenho caneta e não consigo escrever?
Por que que existem as canções e ninguém quer cantar?
Por que que sempre a solidão vem junto com o luar?
Por que que aquele que você quer tão bem já tem sempre ao lado de outro alguém?
Por que que eu gasto tempo sempre, sempre, sempre a perguntar?

27 agosto, 2012

Um conto sobre amor



Diferente de quando se conheceram, quando carregavam consigo a jovial beleza dos vinte e poucos, agora ambos estavam encarcerados pelo peso dos muitos anos de luta e conquistas. Os cabelos, nuvens do céu, denunciavam que a velhice batera à porta e instalou-se sem sequer pedir licença. As mãos trêmulas e o olhar distante, perdido no horizonte como se o magnetismo da aurora houvesse hipnotizado estes serenos olhos. As folhas secas brincam de pique no quintal, as crianças cresceram e aparecerão mais tarde para passar a noite em família.
Tudo é diferente agora, as prioridades já não são as mesmas de uma época em que tudo parecia fácil demais, perto demais. Calmos, em silêncio eles se mantém inertes em um sofá confortável apreciando o início de noite, a brisa calma -velha amiga, sempre presente nas suas vidas- e os pássaros que dançam livres no ar.
"você ainda me ama como antigamente? Como quando me olhava nos olhos, afagava meu rosto e dizia que meu sorriso era o mais belo que seus olhos haviam visto? " - indaga ela, buscando a mão daquele homem tão doce que a acompanha há tanto tempo. Ele esbossa um sorriso tímido, fecha os olhos e espera alguns segundos para respondê-la. Não por precisar de tempo para formular a resposta perfeita -ela sempre esteve pronta em seu coração- mas para reconfortar-se com uma breve lembrança dos anos em que dividiu sua vida com aquela que estava alí ao seu lado, numa agradável noite de outono.
"não te amo como antigamente..." - diz ele, calmamente enquanto segura as mãos quentes da sua sempre amada. "amo-te muito mais que antigamente, amanhã te amarei muito além do que julgo te amar hoje e assim será até o fim das nossas vidas." - nessa altura da resposta, seus olhos enchem-se de lágrimas. "você é a mulher que há muito eu me dispus a conhecer, conheci e enfim me apaixonei. Construimos muito ao longo dessa nossa história mas nada, absolutamente nada, pode ter crescido tanto quanto o amor que nos une há tanto tempo."
Ela sorrí o mesmo belo sorriso que o encantou no passado, o fitando nos olhos com a mesma ternura da primeira vez que juraram amor eterno. Ela é a mesma do passado, ele também. Impossível um amor tão belo se esvair e tornar-se pó.
"amor" - com a voz tomada de emoção ela diz "obrigada por ser o meu homem, do jeito que eu sempre quis, do jeito que você sempre foi."
Um carro aproxima-se do portão e pára. São as crianças chegando. Eles se olham e sorriem, felizes por terem apostado um no outro, felizes por Deus ter unido seus caminhos com tamanha bondade e generosidade. Deus foi perfeito ao unir estes passos, eles sabiam disso.
"Amo você." - Duas vozes em uníssono se completam no ar, enquanto as folhas brincam de pique no quintal.

23 agosto, 2012

Alguém



Alguém chega em sua vida e a transforma por completo, te faz pensar coisas novas, agir como jamais pensou, faz você mudar seus velhos hábitos. A TV não tem mais a mesma graça, os programas de sábado a noite seriam muito mais agradáveis com este alguém ao seu lado. As músicas possuem outra melodia, o sol brilha no céu renovando tudo sobre a terra como sempre fez, mas há algo diferente!
Alguém passa por você e arrebata seu coração, passa a ser a segunda pessoa mais importante neste mundo, faz com que sua vida pareça ter ainda mais sentido... Alguém sorri ao longe e seu coração sente sua felicidade, pois este alguém já habita seu coração há muito tempo. Alguém chora, é como se pedaço de você fosse arrancado sem piedade, é preciso consolar este alguém. A sua dor é a dor dela, sua felicidade é a felicidade dela, esse alguém faz parte de você e você nem sabia disso, nem havia se dado conta desta fusão a quente promovida pelo amor.
Alguém chega em sua vida e precisa urgentemente não sair dela nunca mais. Alguém pode estar com os cabelos da manhã, o humor do fim do dia, a raiva dos períodos femininos, a delicadeza de um dia difícil: não importa! Alguém é importante, faça chuva ou sol, não importa se é ano bissexto ou primavera, carnaval ou presente do Noel, alguém precisa ser amada.
Alguém precisa ser amada;
alguém será amada;
alguém precisa de toda dedicação deste mundo;
alguém tem o sorriso mais belo e contagiante que você já viu.
Alguém passa por você, não diz nada mas você já sabe de tudo. Alguém sabe que é amada, alguém retribui toda dedicação dos minutos diários (1440!) dispendidos a ela.
Alguém é amável, alguém é amada, alguém é você.

Passos na areia



Ao nosso lado um espetáculo de cores, uma aquarela de tons quentes disposta ao longe, roubando a beleza de tudo ao nosso redor que não é o seu sorriso. A água, criança arteira e serelepe, lambe nossos pés e foge gargalhando para mais tarde repetir esta sua favorita brincadeira. Nos olhamos e palavras não se fazem necessárias.
O dia se despedindo, o sol reverenciando sua lúdica amante lua enquanto nos preparamos para acender uma fogueira com nossos amigos mais a frente, contar histórias de monstros, nos assustar com estalidos do fogo que crepita diante dos nossos olhos... nos abraçarmos quando a criança-mar soprar uma brisa fria ao nosso encontro, beijar seus lábios e adormecer sob o manto estrelado da mãe mundo, que ama os apaixonados e os deseja boa noite.
Adormecer abraçado a ti, enquanto o vento apaga nossos passos na areia.

Circus Tiger



Você é um tigre de circo limitado por uma gaiola, acuado pelo chicote, aassustado pelas palmas falsas da platéia. Desde seu nascimento esteve trancafiado, embora lhe fosse natural olhar para o mundo através de geladas barras de ferro algo lhe perturbava. Você sempre teve o que precisava, sempre teve o que esperava (nunca esperou algo novo), nunca precisou serrar as grades pois tudo lhe era cômodo.
Então você cresceu, percebeu que havia um mundo enorme por tras de holofotes, não entendeu seu mundo reduzido, conveniente ao seu dono. Onde estão seus filhotes? Onde está a vida que lhe foi tirada? Onde foi parar a terra que suas patas desconhecem??
Você é um tigre de circo, enfurecido pela epifania da sua existência. Tranquilizantes não podem detê-lo, as luzes do picadeiro se apagam e você sabe que não é essa a sua vida real. Você vive em completa harmonia com a mentira que lhe é imposta. Comida fácil não é o que você precisa, anseia por liberdade.

Amor, ou o Vale Perdido



Olho pela janela, avisto crianças brincando de bola na rua enquanto saboreio minha xícara de café. O céu e toda sua escuridão assemelha-se à minh'alma, uma vastidão sem fim onde estrelas brilham pelo tempo que julgam necessário e se vão, deixando apenas tristes recordações de uma luz que brilhou tão verdadeira outrora, não brilha mais. A fumaça do cigarro, velho amigo e companheiro de noites melancólicas, traça caminhos no ar, bailando numa dança disconexa, sem rumo e sem sentido. Assim como meu coração.
Retorno ao meu interior, busco retratos daquela que se foi para outros braços, para outras bocas, desistiu do meu verdadeiro amor; talvez por capricho, talvez por não saber amar. Quem sabe? Lágrimas perfilam meu rosto, busco esquecê-la mas, por Deus, é tão difícil... Os momentos que passamos juntos, nossas risadas por bobeiras, os abraços que pareciam fazer o tempo parar para o mundo todo observar nosso amor, tudo se perdeu. Ela preferiu os braços de alguém que não sou eu. A crueldade é esta escolha ter sido feita enquanto nos abraçávamos e jurávamos lealdade.
Olho para as paredes vazias e vejo seus olhos, fecho os meus e a encontro em meus sonhos. Somos ainda um só, apenas ela não vê isso.
Termino meu cigarro, meu café já está frio. Fico pensando se há de fato o amor.

21 agosto, 2012

Histórias para pais, filhos e netos


20 agosto, 2012

Em nós


Não se sabe ao certo o tempo que levará para a água fazer germinar uma semente no solo, sabe-se apenas que um dia ocorrerá. E quando ocorrer, a semente poderá ser árvore e dar frutos.
Nunca sabemos a importância real que temos para outras pessoas até que começamos a nos afastar delas, começamos a deixar de fazer parte destes mundos. As vezes nós, enquanto pessoas, não temos real importancia mas sim tem importancia aquilo tudo que doamos para as pessoas. O que importa em nós, para os outros, não é nós mesmos. Deixamos de ser úteis muito rapidamente nos dias de hoje...
Tudo que você ama,
tudo o que você é,
tudo que você quer,
tudo em que você tem fé.
Tudo que você toca,
tudo que você deseja,
tudo que ignora,
tudo que não é,
tudo aquilo, aquele,  aquém.
Tudo que te move,
tudo que te faz bater asas,
tudo que te diz algo,
tudo que te faz sorrir,
tudo que te leva ao inferno.
Tudo que promove a paz,
tudo que diz não saber,
tudo, tudo, tudo que você quer,
tudo em que você tem fé.
Tudo que comove multidões,
tudo que mata ou fere,
tudo que nos enfraquece,
tudo que enobrece,
tudo que te faz sorrir,
tudo que não é.
Tudo que está no lugar,
tudo que nunca está,
tudo pelo qual você sonhou,
tudo na sua vida.
Tudo está dentro de você.
Tudo existe por precisar existir. O sorriso que encanta, a lágrima que comove, a paz que enfraquece, o inferno que enobrece, multidões, quem te faz sorrir, a ferida, a morte, o desejo, o dormir. A distância, a dormência, a culpa, a falha, a sorte, a corte, a morte, a dádiva, a companhia, a fúria, a paz, a noite, o deixar, o cair. O aprender a sentir.





16 agosto, 2012

Névoa



Meus olhos entorpecidos fitam a mancha escura que tenta tomar toda dimensão d'água; tal qual névoa noturna esta mancha move-se lentamente, abraçando o espaço, parte de mim se desprendendo para sempre do meu ser. Olho para os lados, estou sozinho. Não há novidades nesta afirmação, estou envolto por um silêncio quase palpável.
A mancha cresce ao passo que meus sonhos se vão, sonhos que jamais poderia realizar. Sinto uma leve dormencia pelos meus braços que evolui para formigamento, parece que cem mil agulhas brincam covardemente de beijar meus membros superiores. Uma lágrima corre pelo meu rosto, denunciando a angústia -e até o medo- da hora de partir mas preciso ser forte, apesar do fato de que ninguém presenciará este momento e portanto não há motivos para conter as emoções.
O vermelho rubro é tão lindo... lembro-me dos lábios daquela que tanto amei, mas que preferiu a aventura e as desventuras de outros braços em detrimento a todo meu amor. Não há explicação para a traição quando se oferece o amor de bandeja, um sentimento tão puro e verdadeiro. A água já não possui suas caracteristicas naturais, possui agora um odor doce que adentra minhas narinas, envolve meus pensamentos, faz com que meus sentidos fiquem estranhamente aguçados.
Uma aura sepulcral paira ao meu redor, sinto uma coceira proximo aos olhos mas já não tenho forças em meus braços sequer para move-los para fora d'água e sua aparência, antes vívida e alva possui a roxidão da vida que se despede de mim, deixando marcas horrendas e tristes. Uma hora dessas o dia está surgindo, colorindo o horizonte em tons azulados e alegres, contrastando com meus ultimos momentos nesta agonizante jornada que todos chamam de vida. Ouço a movimentação dos trabalhadores matinais, agarrando seus destinos na jornada diária de mentir felicidade para alegrar os outros, se vendendo barato todos os dias por poucas migalhas ao fim do mês. Meretrizes escravas da sua propria sorte.
Olho para dentro d'água e não consigo sequer enxergar minhas pernas, meu corpo está envolto completamente pelo escarlate que não me pertence mais. Sinto uma brisa lamber meu rosto, seria a morte afagando meus cabelos, dando boas vindas para uma jornada desconhecida?? Penso ter ouvido passos, talvez seja alucinação... adormeço lentamente, sentindo meu coração machucado bater assincrono cada vez mais rápido enquanto um forte enjôo me toma. Já não percebo mais nada, tudo está terminado.

13 agosto, 2012

Dia dos pais


Ser pai é entender que um dia já foi filho e agora, com seu rebento nos braços, enxergar em seus olhos os seus proprios anseios, desejos, medos, vividos outrora. É como ter uma segunda chance de vida, uma chance de viver tudo de novo mas com a perspectiva de espectador, coadjuvante. É enxergar a sí mesmo em uma nova vida.

11 agosto, 2012

Caminhos



Há algum tempo observo seus passos, você nem percebia. Fitava seus olhos a distância, tentando decifrar seus pensamentos com enorme fixação em suprir seus desejos, buscava entender o que havia na magia que eu via diante dos meus olhos. Uma mulher diferente que me fascinava.
Seus caminhos, quero compartilhar os esforços em seguir em frente ao encontro do horizonte com as mãos dadas, cabeças erguidas e sorriso no rosto. Quero olhar para o lado e ver você, quero oferecer minha mão quando dela precisar. Quero olhar para trás e ver nossas pegadas no chão, denunciando que nossas escolhas talvez nem sempre tenham sido as mais corretas mas foram as nossas escolhas; batalhamos, sorrimos, choramos, juntos. E por isso venceremos.
Seus caminhos, nossos caminhos.

05 agosto, 2012

Eu aprendi


Eu aprendi que não é preciso vencer para, de fato, ganhar. Aprendi que o mesmo vento que arrasa tudo em furacões de proporções gigantescas é a brisa que brinca entre os cabelos da mulher que amo.
Tudo ocorre em ciclos, nada acontece por acaso e tudo tem seu local para acontecer, ainda que para nossa minúscula e limitada compreensão tudo pareça fora de lugar.
Aprendi a perdoar, aprendi a não errar. Aprendi a não sofrer, aprendi a segurar meus instintos e avaliar cada decisão como se esta afetasse não somente as pessoas diretamente envolvidas, mas sim suas futuras gerações pois uma semente lançada ao solo não gera apenas uma árvore, mas também o sorriso da criança que brinca de balanço em frondosos galhos.
Aprendi a errar, aprendi a reconhecer meus erros e com isso tentar não comete-los novamente. Aprendi a ouvir meu coração, aprendi verdadeiramente a ouvir as pessoas, captar seus ensinamentos e absorver aquilo que me é importante, para o ontem -que já passou, mas permanece em nossas vidas- para o hoje, que é presente e precisa nos ser um presente e para o amanhã, que nós ainda não o temos mas vivemos em função dele.
Aprendi a sorrir, aprendi que o sorriso liberta a alma. O sorriso é a forma encontrada para se doar ao proximo da maneira mais singela e pura que existe sem precisar proferir uma só palavra. Eu aprendi que preciso continuar, seguir adiante, erguer a cabeça e fazer do hoje o dia mais maravilhosamente belo e produtivo que já tive.